China e Rio Grande do Sul: perspectivas para o comércio exterior

20/10/2016 00:56

A realização do encontro do G20 na China traz para o centro das atenções as relações do Brasil com a grande potência emergente da economia global. Compreender melhor o conteúdo e a dinâmica dessas relações é um desafio importante, no sentido de aproveitar ao máximo as potencialidades do comércio exterior e de parceria, em termos de investimento como uma ferramenta para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Em agosto, o informativo da agência oficial chinesa Xinhua News comemorava o aumento das exportações do Brasil para a China, as quais têm acelerado neste ano. Segundo dados do Ministério do Comércio chinês, publicados no informativo, as exportações haviam crescido 17,3% em valor durante os primeiros cinco meses de 2016 em relação a igual período de 2015. A publicação enfatizava, ainda, que esse crescimento se deu mesmo em um contexto difícil para o comércio internacional, de queda de preços das commodities. Em suma, a matéria dava um tom otimista para as perspectivas do comércio entre os dois países.

Esse cenário abre possibilidades para o Estado, que podem ser aproveitadas na direção do aprofundamento e da qualificação das relações bilaterais. A China já é o principal parceiro comercial do Rio Grande do Sul. Nossas exportações para o país asiático vêm crescendo de forma sustentada e constante desde o início do século, como se pode ver na tabela. De um patamar de cerca de US$ 250 milhões no ano 2000, atingimos mais de US$ 4,8 bilhões em 2015. De janeiro a junho de 2016, 25,9% do total das exportações gaúchas foram para o mercado chinês.

No entanto, uma análise mais cuidadosa da composição de nossa pauta exportadora aponta um padrão que se caracteriza pelo predomínio de produtos primários, notadamente a soja. Em 2016, 83,7% do total de nossas exportações para a China correspondem a esse grão. Ainda assim, pode-se identificar uma presença também de produtos manufaturados e semimanufaturados, mesmo que, em sua maioria, sejam também de baixo valor agregado. A observação da composição de nossas exportações de janeiro a julho de 2016 para a China, por fator agregado, no Sistema de Exportações da FEE, mostra que 88,1% delas correspondem a produtos básicos, 8,5% a produtos semimanufaturados e apenas 3,3% a manufaturados.

A participação do Brasil nos BRICS e as mudanças das conjunturas internacional e chinesa colocam novos elementos que precisam ser considerados de maneira a potencializar os benefícios econômicos dessa relação. Para além do comércio, nossa proximidade com a China sinaliza também possibilidades em termos de atração de investimentos. O atual momento das reformas econômicas da China abre novas perspectivas. Desde o final da primeira década do século, os dirigentes chineses vêm apresentando inovações em sua estratégia de relação com a economia global.

A crise de 2008 e a redução do crescimento do comércio internacional determinaram mudanças importantes, que precisam ser compreendidas e consideradas. Em primeiro lugar, a China vem alterando o seu modelo de inserção internacional. De um sistema centrado na exportação de produtos manufaturados de baixo preço, esse país está transitando para uma inserção mais qualificada, com a produção de bens tecnologicamente sofisticados e, principalmente, com uma política agressiva de investimentos das empresas chinesas no exterior.

Essas mudanças se refletem também no plano doméstico. Diante dos problemas do mercado mundial, a China tem conferido uma ênfase crescente no mercado interno e no seu próprio potencial de consumo como motor para o desenvolvimento. As resoluções da III sessão plenária do XVIII Comitê Central do Partido Comunista Chinês, de novembro de 2013, enfatizam o “incremento do bem-estar” e a busca de um “desenvolvimento econômico mais eficaz, mais justo e sustentável” que permita que “os frutos do desenvolvimento beneficiem mais e com mais equidade todo o povo”. Essa perspectiva abre um campo considerável para uma diversificação da pauta exportadora do Rio Grande do Sul para o país. A nova classe média chinesa, que vem crescendo tanto em termos absolutos como em capacidade de consumo, pode ser um mercado de enorme potencial para as exportações gaúchas.

Essa oportunidade é particularmente importante para nossos produtos agroindustriais. Vinhos, bebidas e sucos de uva e outras frutas, produtos alimentares processados com maior valor agregado, como cortes de carnes premium, doces, balas e caramelos, são produtos que têm alto potencial de aumento de exportações. Da mesma forma, artigos de cutelaria, calçados de alto padrão, itens de joalheria e outros produtos de consumo das famílias têm potencial para conquistar o mercado da nova classe média chinesa. O momento é extremamente favorável para ações estratégicas nessa direção, abrindo espaço para uma dinâmica que favorece a diversificação do comércio e perspectivas positivas para os dois parceiros.